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Voluntariamente autista, sociável com trouxas, fluência em melancolicês. Não tem dom de se expressar pela fonética, mas ama a escrita mesmo sem saber juntar a multidão de letras que seguem suas células. Apenas uma alma muda na imensidão de vozes.

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quarta-feira, 23 de novembro de 2016


Esses dias uma planta secou e observei quanta beleza também há no seco, como há uma doçura melancólica nas cores secas, tudo é necessário.

Gosto de olhar as plantas que se agarram as pedras e vivem em meio à ferrugem, como acho interessantes as coisas enferrujadas, meus olhos gostam de habitar mesmo nas coisas secretas que povoam os lugares deteriorados. Acostumados a ver só escombros, mas sentir o quanto de resistência já brota do chão, começo olhar para aquela coluna toda rachada que permaneceu, aquela única folha que demorou um pouco mais.

Fiquei triste quando minha planta secou. A terra não era adequada, o ambiente estava muito abafado, eu estava tão adormecida em mim que me esqueci de regar, quando despertei meu espírito não deixei ser tarde para um novo vaso, uma terra macia e úmida para minha planta seca jazer, parecia um cemitério num belo vaso, mas a amava mesmo assim. Era a melhor despedida que eu poderia lhe dar, era meu jeito de dizer que eu ainda a via mesmo fraca, que sonharia por ela encher com sua vida tão independente de minhas mãos aquele vaso em verdor.

Continuei a tratar aquela planta seca como todas as outras, sempre dando de beber a sua pequena alma afundada na terra fofa, quantas vezes esquecemos que há uma vida silenciosa por debaixo do que tombou. As folhas secas começaram a enfeitar a terra como um tapete para minha plantinha meio morta. 

Até que chegou um dia, vi admirada depois de tanto tempo, ela vivia secreta, reguei com lágrimas seus novos brotinhos verdes, como espero vê-la inteira, continuarei a esperar-te completa. Agradeço as tuas engrenagens frágeis que me fizeram ter esperança nas coisas que esperam secas em algum lugar. Quantas coisas secas já abandonou porque achou não ter mais beleza?  Há muita vida enterrada que espera ser elevada do que aparentemente desabou. A vida ainda pode sussurrar, “ela não está morta, apenas dorme.”

sábado, 19 de novembro de 2016


Como seria bom se pudéssemos em modo real abraçar a nossa própria alma
às vezes queria só que ela saísse de mim livre
e fosse minha companheira externa
é tão difícil contê-la em tão apertado corpo
queria que ela se deitasse e descansasse ao meu lado
que andássemos de mãos dadas
que nos levássemos
que ela pudesse caminhar sem mim

De algum jeito me coube protege-la em minhas entranhas cavernosas
eu sou o seu escudo
sua casca
em camadas momentâneas

Não somos a mesma pessoa
passo meus dias tentando fazer amizade com essa criatura que pousou dentro de mim
tão difícil conter dois seres dentro de um só corpo
Hermann Hesse me entenderia

Seria tão bom sentir a tua existência despregada da minha
mas se tu se machucas até dentro de mim 
a visão do mundo te aniquilaria 
e eu o que seria sem te guardar?

Me parece que tu já vinhas de lá muito cansada de tanto vagar e se escondeu em mim
tu tens para mim a mesma visão de retorno
tudo que vejo são as suas costas em mim
sempre a andar de um lugar distante

Posso sentir quando caístes dentro de mim
e eu não encontro uma posição de te levantar
é tão triste te olhar prostrada de costas
como será o teu rosto
esse segredo que guardas de mim
mas a tua voz me dá calafrios oceânicos

Como pode algo tão frágil incomodar tanto
será que um dia te verei do lado de fora
tua face seria um bálsamo ou assombro?
sereia de mim
canto mortífero de mim

Você é o sopro mais perfurador
que escava as minhas rochas interiores
será que tenho o que tanto procuras

Tu me deixaste lugares vagos
onde a tua essência se expande 
talvez são teus rastros 
para enfim um dia eu tocar o teu frágil rosto
tu procuras em mim 
lugares de te achar.